BLOGGER TEMPLATES AND TWITTER BACKGROUNDS »

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Gira e bica

Aos 20 anos, me descobri realizada. Poderia vir a me sentir assim apenas quando me formasse, casasse, tivesse meus filhos e netos e morasse num lugar correpondente ao vilarejo cantado por Marisa Monte. Mas já estou completa, depois de ter relembrado uma história antiga. É que a nossa realização pode vir dos desejos mais puros e infantis que se concretizam. E quando eu era pequena, tinha um sonho bem diferente dos coleguinhas da escola. "Camila, o que você quer ser quando crescer?", alguém me perguntou. E, com toda a inocência de criança, eu respondi: "Nordestina". É claro que eu não lembro, faz tempo, quem conta isso é minha mãe e quem contou a ela foi minha professora do jardim de infância quando eu morava lá no sul. Do Rio Grande de lá, vim pro Rio Grande de cá e agora tenho um item riscado da minha lista com um ok do lado :)

Imersa nesse sentimento de nostalgia bem Casimiro de Abreu, lembro da primeira vez que não chorei por dor nem por manha. Estávamos eu e meu pai na rede e, enquanto a gente se balançava, ele me contou uma história. Assim, inventada na hora, o que fazia dela mais legal ainda por ser única. Era a história de uma menina que se chamava Camila (os pais adoram usar esse artíficio pra fazer a gente se imaginar vivendo o que é contado, pode prestar atenção) que tinha um caderno. O caderno era o grande companheiro dela, que ela levava pra escola, no qual desenhava, escrevia suas coisas, etc. Com o passar do tempo, ela já não é mais Camilinha. Cresce e acaba se esquecendo do caderno a ponto de jogar no lixo aquele que tinha sido seu grande amigo na infância. No final, o caderno ia pra a reciclagem, virava uma cartolina que ia parar numa papelaria, Camila comprava e fazia dele um cartaz pra pregar na porta de seu quarto.

Pra completar, terminado tudo, meu pai acha pouco e canta O Caderno, de Toquinho. De repente eu não me agüentei e comecei a chorar. Lembro ter sido estranho demais, eu me esquivando pra ninguém ver uma lágrima que fosse, porque não sabia explicar direito o que tava me fazendo chorar daquele jeito. Aí minha mãe viu. "O que foi, filha?". Eu sabia lá explicar aquilo. "Papai me contou uma história..." e comecei a recontar pra ela. Daqui a pouco só escuto "Ou Zé, você fica contando essas histórias pra a menina...". Mas eu não queria que ela brigasse com ele, porque tinha sido uma história linda e ainda por cima com trilha sonora. Bom, eu só sei que até hoje tenho quase todos os meus cadernos antigos guardados.

0 comentários: