Em homenagem a Estruturas I, uma matéria que, se a gente não fizer de tudo pra poetizar, vira uma grande e pesada laje pré-moldada sem guindaste pra ajudar a levantar.
A janela é ausência de parede
A parede é algo de concreto
A parede é caminho para o teto
E o teto é o chão em contra-plano
A torneira é a conclusão do cano
E o cano é parede para a água
A paixão é introdução pra mágoa
E a água uma trégua para a sede
E a sede uma fome liqüefeita
A loucura é ausência de juízo
O juízo final decide tudo
O silêncio é a explicação do mudo
O macaco existe enquanto pensa
O bacilo é o cerne da doença
E o sono a essência do cochilo
O cagaço é a causa do vacilo
O sapato escorrega quando é liso
E nenhuma queda é perfeita
O vazio é ausência de matéria
A matéria é algo de concreto
A essência é a alma do objeto
E a alma da bomba é dinamite
A potência é ausência de limite
No espaço que existe, o gás se expande
Se a vontade é pequena, o tempo é grande
Mas se a fome é o cerne da miséria
O sentido do braço é a colheita
A careca é ausência de cabelo
O cabelo é que dá sentido ao pente
A angústia é irmã da dor de dente
E a arma sem pente não dá tiro
E a frente é atrás quando eu me viro
Mas o lado virado é sempre o lado
O passado é um fósforo queimado
O futuro, ninguém consegue vê-lo
E a morte é a vida que se deita
Concreto Armado - Marcelo Pretto
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