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terça-feira, 31 de maio de 2011

P(r)o(f)ético

Uma das coisa mais poéticas de que tenho notícia foi meu avô, em seu leito de morte, ter pedido pra lavar a cabeça e passar perfume. Ele tava quase lá, perto de ter o corpo encoberto por terra e mesmo assim se amou, se cuidou. Quantas vezes diante das menores picuinhas a gente se enfeia? Com quantas caretas e braços cruzados a gente esbarra por aí?

Levo esse exemplo pra vida. Não dá pra ser feliz o tempo todo, mas procuro sair de casa vestida com o meu melhor sorriso. Vou calçada com as botas de sete léguas do pequeno polegar, preparada para as longas e literais caminhadas. E sigo perfumada com o cheiro das pessoas que abracei no dia :)

No dia que alguém me pegar de rabujo, me mande bater a cabeça na parede. Tiro e queda!

domingo, 29 de maio de 2011

Lenitivo

Uma mosca não me deixou dormir a noite inteira [no sentido denotativo mesmo]. Pra mim, foi o sinal de alerta de que meu corpo está entrando em estado de putrefação. Desse jeito não demora a pousar um urubu na minha janela, espantando o beija-flor que costuma visitar minha roseira. [Aqui eu dou a opção de interpretar o período no sentido literal ou não.] Bom, lembro de, no meu ensino médio, ter aprendido que as frutas que a gente come estão apodrecendo. Óbvio. Mas a gente não para pra pensar nisso. Quem nunca fez careta com ranço de fruta verde na boca? O gostinho doce é proveniente da decomposição. Então, se é assim, faço em mim o reino das bactérias. Meu nome é Monera! Antes feia e cheia, que esguia e vazia. É tudo uma questão de ponto de vista. Depois, talvez a sobriedade do urubu seja mais confortante que a histeria do beija-flor.

 E como - mesmo com a perturbação da minha colega Musca domestica - acordei vestida de poesia, mais uma:

______________

As mulheres ocas
Vinícius de Moraes


"Headpiece filled with straw"
        T.S. Eliot, "The Hollow Men"

Nós somos as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champagne
E pernas de salto alto
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.

Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com nossos rostos de opala.
Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olhamos como sem ver
Com nossos olhos cromados.

Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem manda ser fútil
Fomos alunas bilíngües
De "Sacre-Coeur" e "Sion"
Mas adorar, só adoramos
A imagem do deus Mamon.

Nós somos as grã-funestas
Filhas do Ouro com a Miséria
O gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.
Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na asséptica companhia
Dos nossos machos-de-abelha.

Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do abismo.
Mas nada nos incomoda
De vez que há sempre quem paga
O luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.

Nós somos as grã-funestas
As onézimas letais*
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social.

* Uma das categorias da Nova Gnomônia, de Jayme Ovalle, que classifica os seres e as coisas em: datas, parás, mozarlescos, kernianos e os onézimos, sendo estes conhecidos "pés-frios". Para maiores esclarecimentos, ver o capítulo [a crônica] "A Nova Gnomônia" em Crônicas da província do Brasil, de Manuel Bandeira.

Acordei vestida de poesia

Testamento
Manuel Bandeira

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

domingo, 22 de maio de 2011

Meio sangue, meio mel

Na mesma porcentagem, a intensidade de todas as emoções e a colheita do dia. Achou!


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Raio-x

Nome: Camila
Idade: 20
Profissão: estudante de arquitetura e urbanismo
Passatempo: estragar músicas em aulas desinteressantes

Vida - Chico Buarque



Estação da Luz¹

Viga, minha viga, olha o que é que eu fiz
Deixei o trabalho pra última hora
Na mesa do quarto
Pra ir pra folia
Mas, viga, ali quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz
Deus me ajude a fazer a estação no Relux
Deus coloque em meus dias horinhas a mais
Arranca a viga, arreia a laje
Dá tudo errado e a gente quase cai pra trás

Não quero mais
Se eu virar essa noite me atiro no cais
Depois que entrei no curso, não tive mais paz
Cabelo branco, olheira preta
São tantos tantos tantos tantos tantos ais...


1. Título espontaneamente sugerido por Claudinha.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Bem-te-vi

Bem te vi. Passou assim cantando como dizia meu avô "triste vida, triste vida". Pousou na minha janela e se perguntou quem era que dormia ali naquele quarto. Tanto sol lá fora e essa moça a dormir. "Triste vida". Quem achava que acordar com canto de passarinho era coisa de poesia parnasiana se enganou. O bem-te-vi chegou assim soltando a voz como quem diz: "que fazes dos teus dias?" e foi mais como acordar com um balde de água fria. Terminou indo embora e a água fria fez adoecer. Causou tanta febre, daquelas que ardem a ponto de fazer a gente delirar.

Precisando de cura, plantei uma roseira no meu quintal e a cultivei secretamente até que florescesse. Foi aí que resolvi também tirar a gelosia da janela e a tramela da porta. Só então, bem, te vi. Foi a cor, foi o perfume ou foi o novo vão da minha arquitetura? Seja  qual for a resposta, pode entrar e fique à vontade :)



Ai, a primeira fresta...

sábado, 7 de maio de 2011

Indigna

E completamante desmerecedora.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Na madrugada...

... vitrola rolando um blues, "trocando de biquini sem parar".

Feito avião, planando no ar. Tentando manter a calma, sem esperar pelo momento do pouso. Talvez nunca mais pouse. Se a terra é firme, o ar é leve, leva. Que nem o mar. Mas enquanto o mar lhe joga pra frente, o ar lhe joga pro alto. E, dessa vez, eu quero subir. Feliz maio :)