Aos 20 anos, me descobri realizada. Poderia vir a me sentir assim apenas quando me formasse, casasse, tivesse meus filhos e netos e morasse num lugar correpondente ao vilarejo cantado por Marisa Monte. Mas já estou completa, depois de ter relembrado uma história antiga. É que a nossa realização pode vir dos desejos mais puros e infantis que se concretizam. E quando eu era pequena, tinha um sonho bem diferente dos coleguinhas da escola. "Camila, o que você quer ser quando crescer?", alguém me perguntou. E, com toda a inocência de criança, eu respondi: "Nordestina". É claro que eu não lembro, faz tempo, quem conta isso é minha mãe e quem contou a ela foi minha professora do jardim de infância quando eu morava lá no sul. Do Rio Grande de lá, vim pro Rio Grande de cá e agora tenho um item riscado da minha lista com um ok do lado :)
Imersa nesse sentimento de nostalgia bem Casimiro de Abreu, lembro da primeira vez que não chorei por dor nem por manha. Estávamos eu e meu pai na rede e, enquanto a gente se balançava, ele me contou uma história. Assim, inventada na hora, o que fazia dela mais legal ainda por ser única. Era a história de uma menina que se chamava Camila (os pais adoram usar esse artíficio pra fazer a gente se imaginar vivendo o que é contado, pode prestar atenção) que tinha um caderno. O caderno era o grande companheiro dela, que ela levava pra escola, no qual desenhava, escrevia suas coisas, etc. Com o passar do tempo, ela já não é mais Camilinha. Cresce e acaba se esquecendo do caderno a ponto de jogar no lixo aquele que tinha sido seu grande amigo na infância. No final, o caderno ia pra a reciclagem, virava uma cartolina que ia parar numa papelaria, Camila comprava e fazia dele um cartaz pra pregar na porta de seu quarto.
Pra completar, terminado tudo, meu pai acha pouco e canta O Caderno, de Toquinho. De repente eu não me agüentei e comecei a chorar. Lembro ter sido estranho demais, eu me esquivando pra ninguém ver uma lágrima que fosse, porque não sabia explicar direito o que tava me fazendo chorar daquele jeito. Aí minha mãe viu. "O que foi, filha?". Eu sabia lá explicar aquilo. "Papai me contou uma história..." e comecei a recontar pra ela. Daqui a pouco só escuto "Ou Zé, você fica contando essas histórias pra a menina...". Mas eu não queria que ela brigasse com ele, porque tinha sido uma história linda e ainda por cima com trilha sonora. Bom, eu só sei que até hoje tenho quase todos os meus cadernos antigos guardados.
Você já ouviu falar do macaco medroso?
Há uma hora
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