Com toda a sinceridade: não quero ser arquiteta, quero ser bailarina. Trocaria a prancheta por um palco e o compasso por um par de sapatilhas.
Eu não amo meu curso, eu e ele somos apenas bons amigos - pelo menos por enquanto. Meus testes vocacionais apontavam sempre para o lado artístico, mas eu tremia nas bases só de pensar em revelar que faria artes cênicas ou plásticas. O curso de dança foi criado no ano em que eu prestei vestibular, mas todos esperavam uma decisão sensata da minha parte. "Quer morrer de fome?" Optei por arquitetura e urbanismo sem conhecê-la muito a fundo, muito mais pelo status da área tecnológica e por uma possível renda mais estável. Lógico que o lado artístico e criativo também contou.
Passei tranquilamente. Entrei no curso e me deparei com um universo todo novo. Vieram os trabalhos e com eles as dores de cabeça, as crises de criatividade, as noites mal dormidas (ou nem dormidas), as críticas e comparações. Se tudo isso se deu nos períodos iniciais, imagino o que virá lá na frente. Gosto sim de arquitetura, de admirar e entender o significado das coisas. A parte histórica me encanta, bem como a compreensão o processo construtivo. Só que na hora de criar, é um Deus nos acuda! Tudo que sai da cabeça parece inútil.
Eu amo dançar. Minha relação com a dança é de namoro que acaba de começar. Dançar sim, me faz bem. A sensação do alongamento, o movimento do corpo, o ritmo, os giros e saltos, tudo isso me liberta. Mesmo estando parada há dois anos, ainda sinto tudo isso muito vivo e continuo dando pirueta no meu quarto.
Se eu pudesse escolher que nem criança, hoje eu diria que quero ganhar a vida sendo bailarina de contemporâneo. Viajaria o mundo inteiro me apresentando e nem precisaria ganhar muito, só o suficiente para viver bem. Dá tempo ao tempo.
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Tinha eu 14 anos de idade
Quando meu pai me chamou
Perguntou se eu não queriaQuando meu pai me chamou
Estudar filosofia
Medicina ou engenharia
Tinha eu que ser doutor
Mas a minha aspiração
Era ter um violão
Para me tornar sambista
Ele então me aconselhou
Sambista não tem valor
Nesta terra de doutor
E seu doutor
O meu pai tinha razão
Vejo um samba ser vendido
E o sambista esquecido,
O seu verdadeiro autor
Eu estou necessitado
Mas meu samba encabulado
Eu não vendo não senhor
(14 anos - Paulinho da Viola)